Olá Margarida,
Agora que passaram uns anos do teu nascimento e já aprendeste a ler, deixo-te umas palavras deste dia.
Eram 10h42 da primeira quinta-feira de Fevereiro de 2013 quando vieste ao mundo...
Desde a última segunda-feira que tinhas a bênção dos médicos para nascer. Apesar de uma semana solarenga estávamos no Inverno. As temperaturas ainda estavam frias e talvez quiseste estar no quentinho mais uns dias. Ontem ao final do dia, a tua mãe começou com contracções e por isso, em conjunto com o teu pai, decidiram ir fazer uma caminhada no Jamor para ver se as coisas acalmavam. Mas pelos vistos, quem queria esticar as pernas eras tu. Após uma noite um pouco atribulada, lá foste bem cedo para o Hospital São Francisco Xavier. O teu pai ligou-me às 9h10 e disse "já estou no hospital, a Belinha está em trabalho de parto, é agora". Ainda estava meio ensonado e abananado mas de repente despertei. Foi como se estivesse num banho quente e de repente o gás acaba-se. Frio. Desperto. Vem aí uma nova vida. Toca a pegar no carro e lá vou eu. Estaciono e entro no primeiro edifico que me aparece à frente e pergunto a um senhor que estava por perto pela maternidade. Local errado. O senhor disse que estava numa escola. Porra! Lá andei mais uns 200 metros. Avisto um segurança, dando ele a informação que esperava. Entrei na maternidade, desloquei-me à recepção para saber informações tuas. Mandaram-me esperar, enquanto iam chamar o teu pai. Chega ele, entusiasmado, sorridente. Afinal ainda estavas no bem bom. Voltou a subir para sala de parto, para perto de tua mãe enquanto eu fiquei à espera. O tempo passava. A sala estava meio composta. Algumas grávidas, familiares ansiosos, seguranças, enfermeiros atarefados. Enfim o teu pai chega, abre a porta, e levando tudo à frente diz "Já está!", gesticulando as mãos como quem encerra um jogo de futebol. Acabou. Começou. Nasceste. Nova vida. Aqui o teu primo ficou apático, não acreditando no que estava a ouvir. Tinha que ver para crer. O teu pai estava calmo mas maluco, felicíssimo, puramente alegre, sem preocupações, como que o tinha acabado de acontecer tivesse a maior força do Universo e que nada impediria a felicidade do momento. Nada iria estragar o momento. Contou-me como tudo aconteceu. Mas sobre isso... pergunta-lhe! Só te pude ver às 15 horas. Era o horário das visitas. Fui a casa almoçar para depois regressar e ver-te. Assim o fiz. No regresso, avistei o teu pai que também tinha ido alimentar-se. E só para que conste, a primeira refeição dele após ser pai, sabes qual foi? McDonald's. Festejou o teu nascimento com um Mac. Pumbas! Filha nova, BigMac para o bucho! Adiante... lá fomos nós. Subimos até ao quarto onde estavas em repouso com a tua mãe. Era no 3º andar. Atravessámos ainda um corredor, primeira ou segunda porta à esquerda e lá estavas tu. Pequenina, um ser delicado, frágil, leve, cabelos escuros, pele enrugada, fina, fralda posta. O quarto era branco, com duas camas, sendo que só uma estava ocupada: por ti e mãe. As amplas janelas viradas para sudoeste davam para o Tejo, toda a zona de Belém, toda a vegetação de Monsanto, Restelo, a Fundação Gulbenkian, a outra margem. O sol entrava fortemente no quarto, dando-te as boas-vindas. Mas também por isso, os estores estavam a meio. Vi-te mas mesmo assim custou-me acreditar. Ver para crer parece que não bastou. Não te quis pegar ao colo. Não consegui. Tinha medo de estragar. A tua mãe estava impecável. Nem parecia que tinha dado à luz. Normalíssima. Peguei na máquina fotográfica para imortalizar o momento. Tirei várias. Pede aos teus pais. Made by me. Nada te incomodava. Não te ouvi chorar. Não choraste. Ainda esboçaste um sorriso. Estavas na tua, impenetrável, confortavelmente nos braços da mãe. Esperta.
E assim foi... Telemóveis a tocar, uma enfermeira ou outra a entrar na sala, mas um estado de felicidade e paz naquele espaço, tudo graças ao teu nascimento. Estávamos no topo do mundo. Nada mais importava. Era ali que estava a começar uma nova vida. Para ti e para os teus pais.
Tem uma boa vida. Não te vou dizer o que deves ou não fazer. Não me cabe a mim dizê-lo. Deixo-te apenas um pequeno conselho: Não existe ninguém no mundo que queira o melhor para ti do que os teus pais. Só neles poderás verdadeiramente confiar cegamente sem reticencias, sem "mas"... Dá felicidade a quem te rodeia.
Beijos do primo!